Destruída (Parte I)


Ela chegou em casa aos prantos.
Se sentindo a escória em pessoa.
Chegou destruída, vencida.
Vencida pela dor que todo dia ela tentava deixar para trás.
Mas não adiantava.
Quanto mais tentava se livrar da dor, mais ela grudava.
Entrou em seu quarto chorando.
Ali ficou por um bom tempo.
Até que a maquiagem borrada deixara seu rosto melecado.
Cansada, foi ao banheiro.
Ao terminar de lavar o rosto, se encarou no espelho.
Começou a pensar que ela deveria deixar a dor vencê-la por completo.
Decidiu colocar um ponto final nessa história.
Na sua história.
Não seria mais uma péssima filha/namorada/amiga.
Ela queria apenas ser lembranças, saudades, alívio.
As pessoas já estavam tendo o pior dela por muito tempo.
Eles mereciam paz. Ela merecia paz.
E por mais que a vontade de morrer fosse tentadora.
Tão tentadora...
Ela, por fim, resolveu acender um cigarro. O qual não fumou.
Começou a escrever.
Decidiu colocar sua dor entre as linhas de um caderno velho.
E ali, enquanto escrevia, desejou uma garrafa de vinho.
De vinho não, whisky. Whisky era mais forte.
Mas não havia nada ali, pois ela deixou de beber há muito tempo.
Sua garrafa de vinho/wisky logo foi substituída por água.
E entre um gole e outro.
A vontade de sumir desapareceu, mas não a vontade de chorar.
E então ela chorou, chorou por horas a fio.
A casa estava vazia, ela estava vazia.
Pelo menos era assim que sentia-se por dentro.
Mas isso é um outro detalhe e outra hora, em um outro conto, eu conto. Ou não.
Ela estava vazia e sozinha.
Sentiu que tudo a sua volta estava perdendo a cor.
Tudo se transformava em um horrível preto e branco.
E assim ficou por mais algum tempo, enxergando tudo "descolorido".
A vontade de chorar não havia passado.
Sem condições de continuar escrevendo sua dor no caderno velho.
Se entregou ao choro.
O choro por sua vez, a encaminhou para um sono profundo.
E de paz.

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